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08.05.2008

DOENÇA DE CHAGAS: BHC OU BNH ?

José Márcio Soares Leite*
 
                      Leio com muita preocupação, notícia divulgada no jornal O Estado do Maranhão, de 18 de abril de 2008, dando-nos conta da descoberta acidental, a partir de um informe de uma moradora do Bairro Coroado, em São Luís-MA, da presença de centenas de insetos, sugadores de sangue, o triatomíneo vulgarmente conhecido por “Barbeiro”, transmissores da Doença de Chagas(Carlos Chagas, cientista brasileiro, 1909), os quais foram examinados nos Laboratórios da Fundação Nacional de Saúde(Funasa), que confirmaram estar grande parte deles infectados pelo Trypanosoma cruzi, agente causal dessa doença, que também pode veicular-se de homem a homem por meio de transfusão de sangue, por via placentária, por transplantes de órgãos, por acidentes em laboratório e por outras vias excepcionais, como a oral..
                     Digo preocupação, mas não surpresa, porque tinha conhecimento de um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Brasília e publicado sob o título Emerging Chagas Disease, 2001, descrevendo a existência de uma cadeia alimentar envolvendo fungos, invertebrados e vertebrados, adaptados para o micro habitat da palmeira Attalaea Phalerata, que mantém infecção enzoótica por Trypanossoma cruzi no município de Paço do Lumiar, no Estado do Maranhão/Brasil.
         Os princípios básicos da prevenção da Doença de Chagas são aqueles que visam cortar em algum ponto a cadeia de transmissão. A gravidade do mal, suas conseqüências individuais e sociais, e também as dificuldades de tratamento, trazem à profilaxia uma importância capital. É uma longa e árdua tarefa, consubstanciada nos próprios fatores que envolvem a doença, quais sejam, o aspecto sócio-econômico e a miséria das populações a ela expostas. A doença incide justamente, sobre as áreas mais desprotegidas socialmente, onde o analfabetismo, a desnutrição, o desinteresse político, a falta de higiene, etc., fazem da existência humana imenso sacrifício. 
            Sabemos muito bem que a presença do "barbeiro" se prende com intimidade à existência das "cafuas", essa rústica habitação tão comum no interior do nosso país,  do nosso Estado, e mesmo em São Luís. Já afirmava o próprio Carlos Chagas em memorável trabalho: "Cumpre, antes de tudo, afastar toda a possibilidade de procriação do inseto nas casas, cujas paredes devem ser rebocadas e livres de fendas e cujas coberturas devem obedecer a cuidados visando o mesmo objetivo. Nas zonas infectadas, as casas apenas barreadas (paredes de sopapo) e cobertas de palha são absolutamente condenáveis, visto constituírem os grandes focos de barbeiros”.
          As medidas que visem a melhoria da habitação rural e urbana, são, portanto, essenciais, ao lado de outras que tragam uma proteção específica contra os "barbeiros". Estas se realizam, atualmente, por intermédio de poderosos inseticidas, ditos "de ação residual", por possuirem capacidade de exterminar os insetos, mesmo muitos dias após terem sido aspergidos. Além do BHC, inseticida pioneiro e hoje ausente do mercado, empregam-se poderosos inseticidas denominados "PIRETRÓIDES", de longa ação residual e praticamente destituídos de toxicidade para o homem e animais domésticos.
            Na década de 80, durante um Simpósio realizado no Rio de janeiro, sobre_Uso de Inseticidas e Meio Ambiente(Cad. Saúde Pública v. 1 n.2º, Rio de Janeiro, 2005), o Dr. José Fiúza, então Superintendente da SUCAM (Superintendência de Campanhas do Ministério da Saúde), embora admitindo que a única solução para conter a Doença de Chagas, naquele momento, fosse o uso do inseticida BHC, fez a seguinte referência_ “o atual Secretário de Saúde de Minas Gerais, disse que o problema da Doença de Chagas no Brasil, se resolveria com o BNH(Banco Nacional de Habitação, instituído pela Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964), em vez do BHC”.
           Essa assertiva do Dr. Fiúza, me fez recordar um comentário ouvido certa ocasião, em uma roda de políticos, há alguns anos, de que prefeito que se preza tem que fazer tres coisas: capinar e caiar meio fio de calçada, inaugurar um matadouro e construir uma praça. Por esses tempos, houve até um que ficou conhecido por “prefeito boa praça”. Como estamos em ano eleitoral, tomara que se elejam muitos prefeitos, que ao final das suas administrações, fiquem conhecidos como “prefeitos boas casas”. É o que esperamos.
* Médico, Profº MSc em Ciências da Saúde e membro da  AMM, do IHGM e da APLAC.

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