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24.03.2008

HOSPITAIS SEM MÉDICOS

Adolfo Silva Paraiso*


     Com o avanço da tecnologia surgiu a telemedicina e a cirurgia robótica que hoje são uma realidade e já fazem parte do arsenal terapêutico que o médico utiliza na prática diária para atender aos pacientes. Cirurgias, eletrocardiogramas, vídeos-conferência e consultas podem ser realizadas à distância sem a presença física do profissional. Óbvio que a arte e a ciência médica são indissociáveis e imprescindíveis para caracterizar o ato médico na sua plenitude e humanização no atendimento.
     No Brasil a Universidade de São Paulo - USP foi a precursora, em 1997, dessa nova era que se inicia. O coordenador técnico do Setor de Telemedicina da Unifesp, Paulo Roberto de Lima Lopes diz: "em um país que tem São Paulo, com uma grande infra-estrutura de telecomunicação e concentração de médicos, e que tem o Xingu, o oposto, o Brasil precisa dar atenção tanto à alta tecnologia, para sofisticar a área médica, como também às tecnologias de baixo custo, para melhorar a atenção básica".
    O Conselho Federal de Medicina reconhece oficialmente a nova modalidade ao instituir a Resolução CFM nº. 1.643/2002, que define o que é Telemedicina, seus limites e regulamenta a prestação de serviços.
    O Maranhão é um dos estados da federação que já possui a estrutura e organização operacional necessária para a utilização dessa tecnologia, porém o Hospital Universitário da UFMA ainda não implantou o Projeto Telessaúde de iniciativa do Ministério da Saúde, que busca aplicar recursos de informática e tecnologia para melhorar as condições na Atenção Básica de Saúde o que evitaria o deslocamento de pacientes e gastos desnecessários.
    Era de se esperar que na ausência da medicina digital houvesse um serviço médico com capacidade suficiente para atender a demanda da população. No entanto, se é obrigado a admitir que a maioria dos hospitais do interior do Maranhão está sem programas e serviços médicos devido ao pouco interesse do profissional pelas cidades pequenas em decorrência da falta de condições de trabalho e da péssima remuneração médica que é oferecida sem a garantia de um vínculo empregatício.
    Têm-se, ainda, mais um paradoxo da saúde pública deste país de tantos contrastes. Os prefeitos do interior reclamam da falta de médicos enquanto que o Brasil tem 293 mil médicos na ativa, ou seja, 1,5 para cada grupo de mil habitantes. É o segundo no ranking mundial de faculdades de Medicina com 172 cursos, 71 deles criados nos últimos sete anos.
    Deduz-se facilmente que o problema não é a falta de profissionais, mas sim a má distribuição de médicos que se concentra nas grandes cidades por não encontrar, na maioria dos municípios, a infra-estrutura necessária para o exercício profissional. Soma-se a este quadro a precarização do trabalho médico, que se caracteriza pela tríade: salários atrasados, ausência dos direitos trabalhistas e permanência efêmera no emprego ao sabor da política local.
   A conseqüência da ausência do médico é a falta de resolutividade no atendimento e a constante “procissão de ambulâncias” oriundas de todos os recantos do interior do Estado trazendo pacientes para o Socorrão I e II na esperança de uma melhor assistência médica.
   Tal prática, no decorrer desses anos, corroeu os recursos e sucatearam esses hospitais. Os Socorrões estão combalidos.
   A situação caminha para um verdadeiro caos. Pagamento de fornecedores e serviços terceirizados em atraso, tomógrafos quebrados, falta de kit para realizar exames laboratoriais, cirurgias proteladas por falta de material e corredores transformados em enfermaria é um desrespeito à dignidade humana. O que era exceção tornou-se regra.
Mas, o pior está por vir. Corre-se o risco desses dois hospitais de urgência e emergência de São Luís, também ficarem sem a presença dos médicos, que lá ainda trabalham, pelos motivos já expostos: precárias condições de trabalho e atraso sistemático no pagamento aos médicos.
   Trabalho como cirurgião nestes dois hospitais e estou triste. Não consigo mais sorrir. Adoeci junto com eles (os hospitais).
    A classe médica não pode compactuar com esse status quo.
    Fica o alerta à população, aos gestores, aos médicos e à Promotoria de Defesa da Saúde.


               *Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Maranhão.

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