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29.10.2011

Matando-se a si mesmo

Ruy Palhano *

Um tema que permanece no obscurantismo apesar de já significar um dos maiores casos de saúde pública no mundo é o suicídio. É um fenômeno que esteve presente em todas as etapas do desenvolvimento do homem em diferentes momentos e sua história. È um assunto que sempre despertou muita curiosidade, medo e preconceito ao ponto de mantê-lo escondido às sete chaves evitando o debate franco e aberto.

Atualmente quando se descortina o assunto e o expõe à luz dos conhecimentos modernos e o examinamos sob a ótica de diferentes áreas do saber é que percebemos o quando foi prejudicial esta postura de se sonegar o debate em torno do assunto. Hoje se sabe claramente que quanto maior forem nossos conhecimentos e as possibilidades de se desenvolver amplo debate em seu entorno, mais se previne e, portanto mais se evita as tragédias pessoais ocasionados por suicídios entre pessoas muito jovens.

 Nunca se estudou tanto sobre o suicidio quanto se estuda hoje, por isto mesmo a ciência está desvendando e descobrindo os enigmas em torno deste tema. A curiosidade científica aliada a constatação dos inúmeros prejuízos emocionais, sociais e financeiros ocasionados por este fenômeno tem funcionado como fonte inspiradora de se estudar cada vez mais o assunto.

No Brasil, estimativas sugerem que ocorram 24 suicídios por dia, mas o número deve ser 20% maior, pois muitos casos não são registrados. A quantidade de tentativas é de dez a 20 vezes mais alta que a de mortes. Entre os jovens, a taxa multiplicou-se por dez de 1980 a 2000: de 0,4 para 4%. De tal forma que nos últimos 45 anos o número de casos de suicídio cresceu 60%, de acordo com a OMS.

A OMS estima que, de 2002 a 2020, o aumento será de 74%, chegando a um suicídio a cada 20 segundos, hoje, a taxa é de um a cada 40 segundos. O que há de mais concreto é a associação de suicídio com transtornos mentais, principalmente a depressão, a mais presente e identificada nos dias astuais. Pessoas que pensam em tirar a própria vida costumam manifestar sinais. A maioria, antes de concretizar sua intenção, comenta com alguém próximo, um amigo ou um parente. Existe um mito de que quem quer se matar não fala, mas não é verdade, pois muitos anunciam sua morte.

 O Brasil é o país com a menos taxa de suicido no mundo,variando entre 3,9 a 4,5/100 mil habitantes. Mas como é um país continental e populoso está entre os 10 países com maior número absoluto de suicídio. 

Outro fato epidemiológico que vem ocorrendo e já se constata em pesquisas é a migração do grupo de mais idosos para grupos de indivíduos mais jovens que tentam se matar. Nos estados Unidos esta prática está entre as 10 principais causas de morte, pois em sua população a taxa de morte por suicido passou de 11º em 2008 para 10º em 2009 respondendo por um quarto (1/4%) da carga global de doença no ano de 2002 neste país.

Estima-se que até 2020 a taxa global deste transtorno chegará a 2,4% e que neste ano de 2020 haverá 900.000 mortes por suicídio no mundo, o que refletiria uma morte a cada 35 segundos na população com faixa etária entre 15 e 35 anos, passando o suicido a figurar entre as três maiores causas de morte do planeta.

Estima-se que mais de 80% dos suicídios ocorra entre pessoas portadoras de transtornos psiquiátricos e dentre estes estão: Transtornos de humor; Transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas; Transtornos de personalidade; Esquizofrenia; Transtornos de ansiedade; Transtornos comórbidos (ex: alcoolismo + depressão). Com estes novos conhecimentos acredita-se que seja mais fácil adotarem-se medidas preventivas mais eficientes evitando com isto a morte prematura e evitável de milhares de seres humanos. Suicídio se evita e se previne.

*Médico-psiquiatra professor da UFMA

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